Betim chega à segunda metade da década de 2020 consolidada como a maior economia municipal de Minas Gerais. Pelo quinto ano consecutivo, a cidade ocupa o primeiro lugar no ranking do Valor Adicionado Fiscal (VAF), superando Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem e Extrema.
Mas, por trás dessa liderança, há uma estrutura econômica altamente concentrada e um desafio urgente: diversificar a base produtiva e planejar o futuro com responsabilidade fiscal e visão estratégica.
Atualmente, Betim possui 14.739 empresas inscritas. Destas, apenas 291 (cerca de 2% do total) são responsáveis por R$ 60,5 bilhões do VAF, ou seja, mais de 93,7% de toda a riqueza gerada no município. As demais 14.448 empresas, grande parte delas de pequeno porte e Simples Nacional, somam juntas R$ 4 bilhões de VAF, o que representa apenas 6,3% de repasses de ICMS para o município de Betim.
Esse cenário deixa evidente uma concentração extrema de arrecadação, o que torna o município bastante vulnerável a oscilações setoriais. A dependência econômica de Betim é marcada por dois gigantes: o setor petrolífero, com 54,75% do VAF, sendo a Petrobras responsável, sozinha, por 51,22%; e o setor automotivo (Stellantis e suas empresas associadas), com 18,7% de participação.
Somados, esses dois setores representam, então, mais de 73,45% de toda a economia betinense. Isso significa que qualquer oscilação, seja no preço do petróleo ou no mercado de veículos, tem impacto direto e imediato na arrecadação municipal e no equilíbrio de nossas contas públicas.
De acordo com as projeções da Lei Orçamentária Anual (LOA) do Estado para 2026, Minas Gerais deve arrecadar R$ 92,4 bilhões de ICMS. Deste total, 25% (R$ 23,1 bilhões) serão destinados aos municípios. Aplicando-se o índice de 5,38%, que considera 15 variáveis, dentre elas o tamanho da população e os indicadores sociais, Betim deverá receber R$ 1,24 bilhão em 2026.
Apesar da manutenção da liderança estadual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025 projetava algo mais: cerca de R$ 95,9 bilhões, o que indica uma queda de R$ 3,5 bilhões na projeção de arrecadação estadual e R$ 900 milhões a menos de repasse aos municípios.
Essa redução já sinaliza um cenário de receitas mais restritas e a necessidade de planejamento tributário rigoroso e diversificação de fontes, mas o desempenho de Betim reflete bem sua força produtiva local, mesmo diante da desaceleração de alguns setores.
O ranking do VAF estadual ficará, segundo as projeções, da seguinte forma em relação ao VAF Individual: em primeiro lugar, Betim (R$ 64,598 bilhões); em segundo, Belo Horizonte (R$ 50,537 bilhões), seguindo por Uberlândia, em terceiro, com R$ 45,924 bilhões; em quarto, Contagem (com R$ 39,262 bilhões), e, em quinto, Extrema, com R$ 32,385 bilhões.
Com isso, Betim, proporcionalmente, mantém-se como a principal cidade de origem de ICMS em Minas, imposto totalmente associado ao VAF, embora ainda seja fortemente dependente de setores industriais de alta escala e baixa diversificação.
Levando em conta o ano de 2025, Betim apresentou crescimento do VAF de 8,4%, acima da média estadual, que foi de 6,7%. O desempenho supera Belo Horizonte (2,1%), Uberlândia (3,9%) e Contagem (4,9%), mas fica atrás de Extrema (19%), cidade que vem atraindo empresas de tecnologia e logística por meio de incentivos fiscais e agilidade tributária, além de ser fortemente beneficiada pela influência política nos altos escalões do governo.
Esse dado reforça a necessidade de revisão do modelo de desenvolvimento: enquanto Betim cresce pela força das grandes indústrias tradicionais, outras cidades se expandem pela inovação e diversificação produtiva.
Com a reforma tributária e sua a transição prevista até 2033, nosso município, que hoje é “cidade de origem”, ou seja, produtora, tende a perder espaço para cidades de “destino”, aquelas que consomem.
O repasse de ICMS inicialmente projetado para Betim em 2025 era R$ 1,13 bilhão, perdendo apenas para Belo Horizonte (R$ 1,2 bilhão, por causa de outros critérios de definição, que vão além da produção). No entanto, as mudanças nos critérios de partilha poderão reduzir consideravelmente essa vantagem.
Seguem nossos desafios: o maior deles é justamente diminuir a dependência dos setores do petróleo e da indústria automotiva, investindo em inovação e tecnologia, parque tecnológico, economia criativa e sustentável (com o incentivo de startups e negócios de impacto local), valorização e ampliação das receitas próprias, especialmente IPTU, que não sofrerá diretamente com a reforma tributária; parcerias público-privadas (PPPs), educação técnica e capacitação da mão de obra local, incluindo um política habitacional capaz de aproximar o trabalhador do trabalho.
Não é porque desde 2014 que Betim apresenta trajetória consistente de crescimento da receita que o município não deve se preocupar. O estado é de alerta!
O VAF municipal passou de R$ 732 milhões, em 2014, para R$ 1,18 bilhão, em 2025, com destaque para três momentos-chave: o ano de 2018 (queda para R$ 680 milhões devido à política de retenção de repasses estaduais na gestão de Fernando Pimentel); o ano de 2020, que registrou queda devido à pandemia da Covid-19; e em 2021, registrando uma retomada expressiva com a reativação de produção da Petrobras e o reaquecimento industrial pós-pandemia.
Esses ciclos demonstram como a dependência de grandes players torna o município suscetível a crises externas. Portanto, é necessário planejar o futuro e garantir sustentabilidade. Com um superávit projetado de R$ 150 milhões e liderança estadual no VAF, Betim vive um momento de estabilidade, mas também de cuidado.
O futuro da cidade dependerá da capacidade de planejar com base em dados, inovar na gestão tributária e estimular novos polos econômicos. Mais do que manter-se no topo, é preciso garantir que o município continue crescendo de forma sustentável, equilibrada e com justiça fiscal para as próximas gerações.
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