Betim é uma cidade jovem. E, mais jovem ainda, é a sua trajetória de influência nas decisões políticas de Minas Gerais. Basta lembrar que o primeiro deputado estadual eleito por aqui surgiu apenas no ano de 1994, quando Ivair Nogueira conquistou seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa. Antes disso, a representação política da cidade ainda era tímida em relação a municípios de igual relevância econômica. (Newton Cardoso, depois de ser prefeito de Contagem, já havia se transformado em governador no ano de 1986).
Em 1990, Vittorio Medioli foi eleito deputado federal pela primeira vez, mas sem contar com um grande volume de votos de Betim — cidade que, à época, ainda não manifestava seu expressivo peso político no cenário estadual. Medioli se elegeu quatro vezes consecutivas (1990, 1994, 1998 e 2002), aumentando, pouco a pouco, sua base eleitoral em nossa cidade, mas também contando com seu bom trabalho em outros redutos regionais, sobretudo no sul de Minas e nas cidades dos vales do Mucuri, do Jequitinhonha e do extremo norte do Estado.
Já Ivair Nogueira, eleito em 1994, exerceria seis mandatos consecutivos (1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014), tornando-se o principal nome de Betim na Assembleia Legislativa. Curiosamente, sua primeira eleição ocorreu durante o governo de Maria do Carmo Lara — à época, sua principal adversária política.
O ano de 2006 marcou o ponto mais alto da representatividade política de Betim. Vinte anos atrás, eu estava como secretário de Comunicação da gestão de Carlaile Pedrosa (PSDB) e, como coordenador, participei diretamente do processo, juntamente com uma experiente colega de profissão, a jornalista e marqueteira Raquel Faria. Também tínhamos, naquele momento especial, a coordenação financeira e intelectual do então deputado federal Vittorio Medioli, o essencial carisma de Carlaile (que contava com alta popularidade em seu governo), a organização administrativa de Valter Teixeira e a articulação poderosa do irmão do então prefeito, Ciro Pedrosa, além de outros braços importantes que atuavam fortemente — como um secretariado comprometido com o projeto e vereadores dispostos — sob a orientação do jornalista Flávio Pereira, que hoje é CEO do hexa-deca campeão SADA Vôlei, time que, nessa mesma época, nascia através de um projeto social de Betim.
Claro, tínhamos também o apoio de movimentos populares fortes, advindos da ruptura com o Partido dos Trabalhadores (e aqui relembro nomes importantes, como Ellen Ises, Licínio Baía, Osvander Valadão, Antônio Baracat e muitos outros) e, não menos relevante, a influência dos setores de imprensa, quando o jornal de papel era uma fonte quase exclusiva de informação em nossa cidade.
Foi através dessa conjunção de fatores que criamos e coordenamos o movimento que veio a ser batizado de “União por Betim”. A proposta era simples e poderosa: unir forças políticas locais em torno de um mesmo objetivo — garantir à cidade uma bancada expressiva nos poderes legislativos.
O resultado foi histórico. Naquele ano, Betim elegeu Ciro Pedrosa como deputado federal (irmão do prefeito Carlaile Pedrosa), com 131.984 votos. Elegeu também Pinduca (85.654 votos), Ivair Nogueira (59.637 votos) e Rômulo Veneroso (46.344 votos) como deputados estaduais. Até mesmo a oposição da época foi beneficiada com a campanha por votos em quem fosse de Betim, como Maria Tereza Lara (35.013 votos), também deputada estadual, e sua irmã Maria do Carmo Lara, deputada federal (reeleita com 86.506 votos), que viria a renunciar em 2008 para disputar — e vencer — a prefeitura contra Rômulo Veneroso.
Se olharmos a linha do tempo, a influência direta dos prefeitos nas eleições proporcionais sempre teve seus limites. Maria do Carmo Lara (1993–1996) não conseguiu eleger seus aliados da cidade. Na gestão de Jésus Lima (1997–2000), Maria do Carmo foi eleita deputada federal, porém em função de seu próprio recall político. Carlaile Pedrosa (2001–2008) foi o prefeito que mais teve deputados de sua base eleitos, mas isso se deu, em grande parte, pelo espírito de valorização municipal surgido justamente a partir do movimento União por Betim.
Maria do Carmo Lara voltou ao comando da cidade entre 2009 e 2012, mas não conseguiu repetir a sua primeira boa gestão nem o feito de eleger deputados. Também Carlaile, em seu terceiro mandato (2013–2016), não emplacou nomes para o Legislativo. Já Vittorio Medioli (2017–2024) governou Betim em dois mandatos consecutivos, com forte base administrativa e alta aceitação como gestor, mas, talvez por opção, preferiu não apostar tanto em deputados estaduais ou federais ligados diretamente ao seu governo.
Agora, às vésperas de 2026, Betim volta a conviver com o mesmo dilema: como garantir representação política condizente com sua força econômica e populacional? A experiência mostra que nenhum prefeito ou outra personalidade qualquer, isoladamente, consegue eleger deputados. Nem as lideranças políticas, sozinhas, têm força para romper o bloqueio regional e partidário — perverso em sua estrutura fisiologista. O que faz a diferença é, novamente, a união: o projeto coletivo, acima dos interesses individuais.
Vinte anos depois, quem sabe, talvez seja hora de reeditar aquele espírito de 2006. De compreender que a cidade precisa falar com uma só voz. E, assim, retomar um movimento que pode — e deve — voltar a se chamar “União por Betim”.
Para isso, é preciso ter compreensão de cenários, espírito coletivo e a noção de que, a fórceps, o parto é mais difícil e pode resultar em um natimorto. Se entendermos, através do espírito público, que Betim pode e merece uma representação verdadeira e comprometida com seus interesses mais genuínos na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional, nossas lideranças compreenderão também que a vontade particular importa — e muito, mesmo porque é o desejo e a ambição boa que fazem o mundo seguir. Mas o que define, de fato, é a vontade popular, que somente voltará suas atenções à necessidade de elegermos parlamentares locais se os pré-candidatos que aqui se colocarem perceberem que a cidade é mais poderosa do que qualquer um deles.
Caso contrário, nossa amada Betim continuará rejeitando aquilo que não lhe pareça palatável. Ensina o ditado atribuído a Sallust, historiador romano do século I a.C: “Concordia res parvae crescunt, discordia maximae dilabuntur.” Traduzindo: “Pela concórdia, as pequenas coisas crescem; pela discórdia, até as maiores se arruínam.”
O Parque de Exposições David Gonçalves Lara é um símbolo da história e da transformação de Betim. Concebido ainda...
Betim é uma cidade jovem. E, mais jovem ainda, é a sua trajetória de influência nas decisões políticas de...
Nos últimos anos, algumas cidades têm se destacado nacionalmente pela capacidade de inovar na gestão pública, de planejar com...